segunda-feira, 12 de outubro de 2015

"SOLEDAD", Poema, 12-10-2015. Canto do personagem-narrador do Conto "SOLEDAD", do livro o qual trabalho nesse momento. Andreas Nora

SOLEDAD


A sua face tão meiga
De brandura angelical
Devora-me e me faz estático
Como o pássaro hipnotizado pela serpente.

Vejo-a distante, porém, sua luz,
Apesar da sua concentração
E sem mesmo antes me perceber,
Atira-me a uma perturbação
Onde tudo ao meu redor,
E minha solidão, parece desfazer-se.

A sua máscara tão forte
Num flash abrigado pelos cílios,
Dos cílios castanhos escuros longos que se mexem,
Salvou-me de uma melancolia atroz, lancinante;
E o monstro desfigurado que destroçava a minha alma
Que como espectro vagava nas nuvens térreas
De uma vodca acalentadora,
Que disfarçava uma dor
Ao navegar na tua imagem 
- Vim trôpego
Lançado pelas imundícies
Do pó do fumo do álcool do sexo pervertido
Da solidão, Soledad,
Quando eu admirava a morte
Num orgasmo falsamente transcendental;
Mortal.

Ao norte
Entre vivos a desfilarem o seu ego ilusório, fantasioso,
Nesse momento estéril
Quando o mundo parou;
Parou e eu pude vê-la deslumbrante num palco
Num Demi plié inconsciente transbordante
De sensualidade
- Ao norte pude vê-la salvando-me da morte...

Não adianta o medo
Ou o passar despercebido
Viva está a vida em cada um dos seus segundos
A lançar-se e a nos pegar pelos pés
Sacudindo-nós de cabeça para baixo
- De você suada desprende o olor
De fêmea insaciável a chorar um pranto seco
De ressentimento encravado
De ódio mascarado
De um amor desbotado
De um gozo abortado.

[A sua carne rosada umedecida
Treme e chora
As lágrimas que escorrem
Pelas suas coxas,
E persigno-me se lambê-las
Alcançando a sua rosada carne
Umedecida a vibrar em minha boca]

Vão se fodendo as escolhas
- Entramos e caímos sem esperar - 
Somos lançados, paridos; rebentos ao cosmo...
E cada qual navega como pode;
Olho olhos olhares,
Disfarces mal disfarçados;
Vejo os seus olhos em silêncio
A irradiarem luz,
O seu corpo a bailar como raios lançados dos céus;
Imagino a sua inocência enganada pela vida
- Fixo o seu rosto:
Máscara divina de um amor abstrato, inefável -
Quando o meu olhar lê a sua alma.

O meu pesar no seu pensar
No incenso que me eleva a alma
Nesse triste hora
Onde penso agora
Nos seus puros olhos
Olhos mansos quase a vagar
Que me devolvem a calma
Que me roubam as noites perdidas
No flanar de bar em bar
Onde as piranhas devassas, bêbadas, comungavam comigo
Na depravação,
E eu esfaimado pelas orgias das sarjetas,
Entregáva-me às suas ordens...
Às ordens que ao passar do estado ebrioso nada mais era que solidão...

[Morbidamente os pés da cama magrela rangem
Nas noites que o pensar em nossa loucura,
A minha inquietude e devaneio pelo seu corpo,
Depois de um espasmo é uma golfada de esperma,
Transformava-me nun vagalume sem luz
- No amanhecer do dia eu dizia:
Quero... necessito urgente de uma vodca...
Solidão, Soledad... Solidão...]

A dor que partiu a minha alma
Pelos anos perdida
Na putaria bendita
- Anódina naquele momento,
Quando a alma se espremia em remorso pungente - 
Dissolvida em escuridão
Embebida em solidão
Em bebida, em perdição
Que me devora sem perdão
Lançando-me ao chão,
Máscara divina, o seu corpo que baila,
Sua expressão serena e forte,
Sua luz a brilhar
Por trás dos cílios castanhos escuro longos a mirar
O meu desassossego
Que estonteia você.

Tira-me dessa estagnação.

[...Pro nobispeccatoribus -
Schubert faz-me chorar;
Jogo-me aos seus santos pés e deixo que você me pise
E jorro sangue pela boca
E ejaculo...]

E a Rapsódia Húngara
Faz-me desvairar em cada movimento seu
- Encanto!... Deslumbramento!... Ar aos pulmões!...

Retorna-me à vida
Mesmo estando eu diante da morte,
Soledad...


Andreas Nora

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